Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espirito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou:; viver não é necessário; o que é necessário é criar.
         Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade, ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anÃmica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
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Fernado Pessoa, nota manuscrita pelo poeta, publicada pela primeira vez
na 1ª edição de Obra Poética, Edições Nova Aguilar